sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Bacharel em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2003) e Graduado no Curso de Biblioteconomia pela mesma Universidade (2007), Michel Maya Aranalde buscou contextualizar a questão ética nos dias atuais, de acordo com as mudanças tecnológicas e sociais que a profissão bibliotecária vem enfrentando. O texto é voltado para profissionais da área de Ciência da Informação e biblioteconomia em geral, que têm um maior interesse na filosofia da biblioteconomia e em compreender como as relações entre a modernidade e o caráter humano se dão, e quais implicações surgem a partir disso.

Por ter primariamente uma forte base filosófica, o autor sentiu a necessidade de não apenas contextualizar o presente, mas também refletir sobre o caráter humano da profissão. O artigo tem dois objetivos principais muito claros: 1. Questionar e refletir sobre como poderia a ética bibliotecária se encaixar num novo contexto tecnológico e moderno e 2. Diferenciar o significado entre Código de Ética e Código de Conduta, sugerindo como ideal ao final de sua argumentação a criação de uma Comissão de Ética, para avaliação do comportamento de profissionais, de acordo com cada situação em específico.

Em outras palavras: o conteúdo ético das ações não pode ser materialmente determinado através de um código. Da mesma forma, a possibilidade de coerção decorrente das penalidades prescritas dilui o sentido da ética, pois a possibilidade de coerção está relacionada a uma legislação jurídica e não a uma tomada de decisão referente a como agir da melhor maneira possível. A legislação jurídica admite um elemento que é incompatível com a autolegislação exigida por uma postura ética: a possibilidade de coerção externa. (Aranalde, 2005, p. 362)

Importante notar que em suas reflexões sobre a ética profissional o autor diferencia reiteradamente uma característica pessoal (Ética) e um comportamento derivado a partir de uma ordem prevista por lei (Código de Conduta). A diferença é que as más ações denominadas pelas leis, tem punições já previstas, mas as más ações provenientes da falta de ética, podem ter más conseqüências, mas não existem punições exatas para tal. Essa questão aprofunda-se ainda mais quando é devidamente contextualizada num cenário de “vida digital”, ou seja, sociedades e comportamentos formados a partir das tecnologias novas e em constante desenvolvimento. A era da “rapidez e flexibilidade” não é boa, nem má, apenas é.

Mesmo tendo consciência da imutabilidade dos avanços tecnológicos e de seus aspectos positivos e negativos, faz-se necessária a reflexão que nos leva à algumas perguntas que ainda não têm respostas muito concretas tais quais “Como buscar uma estabilidade proporcionada pelo saber-fazer num mundo em que o saber é provisório e o fazer é indeterminado? Como interagir com o fluxo de informações sem ser tragado por ele?” (ARANALDE, 1995, p.343). A rapidez e a flexibilidade, o conteúdo digital e a forma que ele é disponibilizado, a forma que as pessoas socializam-se nesse ambiente e a atuação do próprio profissional bibliotecário perante essas novas tecnologias e ferramentas precisam de uma funtamentação sólida e perene, mas que também esteja de acordo com a atualidade.

Uma das soluções que o autor discretamente sugere para esse dilema contemporâneo é adaptarmo-nos ao novo, mas sem deixarmos de nos ater ao que é essencialmente tradicional e confiável. Pois “as exigências por rapidez e flexibilidade, que estão por trás do estabelecimento de uma cultura de aprendizagem nos moldes da sociedade de informação, não podem ser ignoradas, mas também não podem ser colocadas como fins em si mesmas” (ARANALDE, 1995, p.352). Ou seja, os princípios mundanos podem ser renovados de tempos em tempos, mas as práticas e a essência das ações humanas, a ética estando inclusa nessas ações, permanecem as mesmas.

[...] a lição é não tentar adequar a realidade a uma teoria: isso pode ter conseqüências desastrosas. O importante é que a teoria dê conta da realidade, explicando-a e suprindo as necessidades geradas com competência e habilidade. Entretanto, com os imperativos de rapidez e de flexibilidade corre-se o risco de ser seduzido por uma cultura do esquecimento, onde o novo deve, necessariamente, substituir o antigo. Assim, muitos conhecimentos básicos e relevantes tendem a dar lugar a concepções diluídas e superficiais que podem acabar comprometendo a adoção de uma postura ética. (Aranalde, 2005, p. 351)

É possível concluir então que no segundo capítulo “Novas tecnologias e reconfiguração social” é feita uma abordagem mais ampla e reflexiva sobre os impactos diretos dos avanços tecnológicos na ética profissional em biblioteconomia. Percebemos que ao mesmo tempo que a tecnologia da informação, levou a uma melhoria na comunicação e a um aumento do nível da produção acadêmica e profissional, é possível sentir um certo niilismo quando o autor afirma que “se as ações são descartáveis, então os fins que as movem também o são. Portanto, a própria formação humana com vistas a objetivos duradouros também se torna descartável” (ARANALDE, 1995, p.345). No terceiro capítulo “Reflexões sobre a Ética” a diferenciação entre ética e conduta foi feita tendo como base filosófica textos de Aristóteles, Kant e Hegel. Todos os autores citados no artigo completo puderam ser encontrados nas referências ao final do texto.


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